25 março 2003

Puxa... que análise profunda sobre os Travecos... bom... tem quem goste.
apenas um trecho:

"Acho os travestis figuras shakespearianas, de grande dramaticidade, centauros urbanos, corajosos, encarnando duas vidas num corpo só. Os travestis almejam uma beleza superior, uma poesia qualquer insuspeitada, mesmo que movidos pela necessidade da grana do 'michê'. Não confundir o travesti com a drag-queen; a drag-queen é satírica, caricatura de uma impossibilidade; o travesti é idealista. O travesti acredita na arte; é utópico e romântico. O travesti tem orgulho de ser quem é; ele não é uma decaída - ele tenta ser uma afirmação de identidade. Na realidade, o travesti é uma espécie de ideal das mulheres, principalmente das pós-peruas, das turbinadas e siliconadas, pois elas querem ser homens também, homens macios, elas aspiram à coragem e liberdade do travesti, sem pagar o preço das ruas, pois o travesti sempre encerra um perigo qualquer.
Eles não têm a mansidão aparente das damas da noite. O travesti é um risco maior que a aids. Eles têm algo de homem-bomba - carregam um segredo que pode ter matar ou te mudar para sempre. O travesti não enfrenta a moral vigente; eles enfrentam a biologia. A garota de programa é conservadora, serve ao sistema sexual vigente. O travesti é revolucionário, quer mudar o mundo. O veado ama o homem; o travesti ama a mulher mas ele não quer ser mulher, ele quer muito mais, ele não se contenta com pouco, ele é barroco, maneirista (não existem travestis clássicos). Há algo de clone no travesti, algo de robô, pois eles nascem de dentro de si mesmos, eles são da ordem da invenção, da poesia. O travesti não quer ter uma identidade; ele almeja uma ambigüidade sempre deslizante, sempre cambiante, se parindo numa estirpe futura de neo-loucos. O que oferece o travesti ao homem que o procura?"


by Arnaldo Jabor (25/03)

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